Por Minha Receita
De bolos florais servidos à sombra das cerejeiras até ensopados picantes saboreados após longos jejuns, os pratos típicos da Páscoa revelam tradições que atravessam séculos e continentes. Nesta época do ano, cada cultura tem seu próprio jeito de celebrar recomeços — seja por tradição religiosa, para comemorar a chegada de uma nova estação ou simplesmente pelo prazer de reunir quem se ama à mesa.
Se você aprecia comida com história (e um pretexto para experimentar receitas novas), confira nosso roteiro, que vai muito além do bacalhau e dos ovos de chocolate.
Cordeiro assado (Grécia)
Prato estrelado das mesas gregas durante a Páscoa ortodoxa, o cordeiro simboliza o sacrifício de Jesus. À meia-noite do sábado, seus miúdos são servidos na sopa aromática chamada magiritsa.

Já no domingo, o animal é temperado com alho, limão e ervas frescas, como alecrim e tomilho, e assado lentamente no espeto, ao ar livre, girando por horas sobre brasas — um espetáculo que reúne famílias e vizinhos em clima de festa, vinho e música.
Em algumas ilhas gregas, o cordeiro é recheado com arroz, miúdos e ervas, receita conhecida como arni gemisto. Em outras regiões, é servido com batatas assadas e tzatziki, o clássico molho de iogurte com pepino e hortelã.
Doro Wot (Etiópia)

Picante, espesso e profundamente aromático, este ensopado de frango é parte essencial das celebrações pascais na Etiópia, especialmente após os longos jejuns da Quaresma seguidos pela Igreja Ortodoxa Etíope.
O prato é preparado com berbere (uma potente mistura de especiarias locais), niter kibbeh (manteiga clarificada com infusões de alho e gengibre) e ovos cozidos. Servido sobre injera, um pão fermentado de textura esponjosa, o doro wot reúne famílias em torno de uma refeição farta para representar abundância e renovação.
Hot Cross Buns (Reino Unido)

Tradicionais pãezinhos doces marcados com uma cruz no topo, os Hot Cross Buns são presença obrigatória na Páscoa britânica. Aromatizados com especiarias como canela, noz-moscada, frutas secas e raspas de cítricos, eles remetem à crucificação e são consumidos sobretudo na Sexta-feira Santa. Segundo a crença popular, assá-los e compartilhá-los garante sorte e prosperidade o ano inteiro.
Capirotada (México)

Imagine uma rabanada com um toque salgado e adocicado ao mesmo tempo. Assim é a capirotada, prato típico mexicano preparado durante a Semana Santa.
Feita com fatias de pão frito, queijo, frutas secas, especiarias e calda de piloncillo (rapadura mexicana), esta receita é rica em simbolismos religiosos: o pão representa o corpo de Cristo, a calda evoca o sangue, e os cravos e paus de canela remetem aos pregos e à cruz.
Mazurek (Polônia)

Essencial na celebração pascal polonesa, o mazurek é um bolo fino e delicado, montado sobre uma base de massa amanteigada, recheado com frutas secas, nozes e geleias, e finalizado com glacê colorido ou uma camada de chocolate. Tradicionalmente servida após o período de jejum da Quaresma, esta sobremesa simboliza alegria, fartura e recomeço, levando cor e doçura à mesa.
Morcon (Filipinas)

Nas Filipinas, onde a fé católica influencia boa parte do calendário cultural, a Páscoa é celebrada com devoção e pratos repletos de simbolismo. Entre eles está o morcon, um rolo de carne bovina recheado com linguiça, ovos cozidos, cenoura, queijo e pepino em conserva, cozido lentamente em um molho denso e servido com arroz.
Elaborado e festivo, o prato representa a abundância após o jejum da Quaresma e costuma reunir famílias em longos almoços de domingo de Páscoa.
Ovos tingidos com cebola (Leste Europeu)

Em países como Letônia e Ucrânia, tingir ovos com casca de cebola é uma tradição antiga e cheia de simbolismo. Cozidos em água com as cascas, os ovos ganham uma tonalidade marrom-avermelhada e representam vida nova e ressurreição. Mais do que elementos decorativos, eles são parte essencial das celebrações e costumam ser trocados entre amigos e familiares como gesto de afeto.
Ao transformar rituais em receita, cada cultura – do Oiapoque à Cracóvia – mostra que o que se come diz tanto quanto o que se celebra. Afinal, o que esses pratos têm em comum não é o ingrediente, mas a intenção.